Incrível [ou não]

Ele entrou na cozinha e me viu chorando. Está tudo bem, meu amor? Está sim. Respondi sincera, olhando em seus olhos. Ele a viu, a verdade, tão sólida quanto a maçã na mesa. Então porque estás chorando? E porque eu não estaria? Respondi perguntando. E vi em sua testa que ele ficou a tentar achar uma resposta. Pouco depois, apenas o tempo de uma xícara de chá pensativa e uns chinelos mal levantados do chão, sentou ao meu lado e não disse nada. Apenas chorou também. Desculpa, amor, não queria te fazer chorar. Falei. Mas não foi culpa sua. Ele afirmou enfático. E de quem foi? Perguntei surpresa. Também não preciso de culpado. Você tem razão, lágrimas não brotam com sementes. Só chorar por chorar também me faz bem. E encostou a bochecha molhada em meu ombro nu. Então sorri. Meu sorriso de domingo com café-da-manhã na cama, naquela quinta-feira já cansada do peso de uma semana quase toda. O apertei o mais forte que pude, quase querendo que ele pudesse assim sentir meus pensamentos conta a pele. Porque tive um pensamento com vida própria, daqueles que chegam e invadem a cabeça e o corpo todo, sem nem pedir licença. Pensei em como é incrível [ou não] ele conseguir secar minhas lágrimas sem precisar enxugá-las. Às vezes, ser compreendida é melhor que sexo ou chocolate.